IMPRENSA
Estudo de revisão bibliográfica sobre o fenômeno, da pesquisadora Helena Garbin, doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisou 15 trabalhos que envolveram 33 autores de 18 universidades. Todos os artigos analisavam quais as consequências que a onda do “paciente expert” pode ter sobre a profissão médica.Alguns autores entendem que a aquisição de informações sobre saúde pelo paciente, via internet, abala o status e a autoridade do médico. Outros argumentam que a disseminação pela web de pesquisas e novos tratamentos fortalece a prática médica, já que os pacientes vão em busca de profissionais mais atualizados.O presidente da Associação Médica Brasileira, José Gomes do Amaral, considera positiva a busca de informações. Mas ressalta que muitas fontes na rede não são confiáveis e o paciente não tem capacidade para distinguir o que é sério do que não é. “Na internet existe informação. O que o médico faz ao longo de sua formação é aprender a usá-la. Aí reside a complexidade da formação médica”, diz. Por isso, a consulta com um médico continua sendo imprescindível. “Discernir o que é mais importante e colocar peso nas novidades que surgem é função do médico.”O cardiologista Carlos Scherr concorda. “Eu mesmo costumo indicar sites onde o paciente pode se aprofundar sobre o assunto com informações de qualidade científica comprovada.” As páginas mais confiáveis, ressalta, são as de sociedades especializadas. “Tive casos de pacientes que leem sobre um estudo com uma quantidade pequena de pessoas e tomam como verdade. Há os que querem se tratar com célula-tronco, por exemplo, mas os resultados não são comprovados.”Helena Garbin lembra no estudo que esse fenômeno ainda vai crescer muito no País, porque apenas 16% dos lares brasileiros, segundo o IBGE, têm acesso à internet. Com ressalvas, ela faz parte do grupo que avalia positivamente o avanço desse hábito entre brasileiros. Em sua opinião, em consultas que duram, em média, de 10 a 15 minutos, não há muito tempo para que o médico possa se aprofundar. “O médico tem o conhecimento técnico, o paciente tem o conhecimento da sua dor. A busca de informações na internet aumenta o diálogo.”Muitas vezes, a busca de dados se dá por meio de listas de discussão, formadas por pacientes ou parentes de pessoas que sofrem de doenças crônicas, raras ou estigmatizadas. O químico e economista Carlos Varaldo criou um portal de informações sobre doenças do fígado. O site tem 28 mil usuários cadastrados – 600 são médicos. “Estamos no meio de uma revolução boa para a medicina porque vai acabar com a ideia de que o médico é um deus. Estudos comprovam que pacientes informados têm mais aderência ao tratamento”, diz. Atualmente, há sites que oferecem até a possibilidade de o paciente montar um histórico seu sobre doenças, vacinas, cirurgias. Com isso, em caso de emergência, o médico pode acionar os dados por meio de senha.Para o pediatra Carlos Alberto Simões, que atende em consultório há 22 anos, as pessoas estão sem confiança no profissional. “Tem paciente que busca informação por conta própria e muitas vezes chega dizendo o procedimento que acha que terá de ser feito. Corto logo, quem manda aqui sou eu.” Helena, no entanto, chama a atenção para o aumento do número de “pacientes sem sintoma”, que usam a rede para se autodiagnosticar e automedicar. “A obsessão pelo bem-estar leva à medicalização excessiva. Tudo vira doença com nome, medicamento e tratamento.”
Impacto do uso da rede
Prós:
– Médicos precisam se manter atualizados e bem informados para argumentar com paciente
– Consultas são feitas com o paciente, e não para ele
– Comunidades virtuais dão apoio e informação aos doentes
– O paciente está menos disposto a acatar passivamente as determinações médicas
– Dúvidas que o paciente pode ter vergonha de esclarecer com o médico podem ser respondidas via web
– Há mais informações sobre tratamentos oferecidos pela medicina alternativa
Contras:
– Ao extremo, pode levar à desprofissionalização e perda de autoridade do médico
– Linguagem médica pouco acessível pode dar margem a interpretações erradas
– Informações encontradas na internet podem ser incompletas, contraditórias, incorretas e até fraudulentas
– Pode incentivar automedicação
– Alguns sites são de empresas comerciais ou laboratórios interessados em divulgar remédios
– Muitos sites de terapias alternativas contestam o conhecimento médico sem base científicafonte: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,busca-de-dados-sobre-doencas-na-web-preocupa-medicos,333831,0.htm
Situação pior
“No Brasil a situação deve ser pior”, estima o cardiologista Carlos Scherr, da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. “Há muita desinformação, as pessoas confundem os sintomas com outras doenças e muitos médicos não sabem diagnosticar direito”, diz ele.
De modo geral, pessoas que não têm nenhum fator de risco nem histórico familiar devem fazer uma avaliação anual a partir dos 55 anos no caso dos homens e dos 60, nas mulheres. Alguns médicos acreditam que o acompanhamento deva ser ainda mais cedo. “Recomendo check-ups anuais a partir dos 40 ou 50 anos”, diz Nicolau.Quando há na família algum parente que sofreu um infarto ou morte súbita antes dos 55 anos (em homens) ou dos 65 (no caso das mulheres), o ideal seria começar um programa de prevenção ainda na infância.“Nesses casos, desde os três anos de idade a criança deveria ser estimulada a ter uma alimentação adequada, praticar atividade física e controlar o peso”, diz Scherr.
Essas pessoas também precisam monitorar mais cuidadosamente a pressão sanguínea e os níveis de colesterol.
Hábitos saudáveis
A adoção de hábitos saudáveis como não fumar, controlar o peso e praticar atividade física regularmente deveria ser regra, independentemente da presença de fatores de risco e de histórico familiar. “Mudar a realidade envolve conscientização e educação, pois mesmo nas classes mais altas há muita desinformação”, diz Marcos Knobel, coordenador da Unidade Coronariana do hospital Albert Einstein, em São Paulo.
As doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte no mundo. No Brasil, matam 300 mil pessoas a cada ano.
e ciclovias, basta um pequeno esforço para
melhorar – e muito – a qualidade de vida
_Márcia Vieira_
Não se trata de uma dieta para ter o corpo das belas mulheres e dos garotões sarados que fazem a fama de Ipanema. A proposta do Estilo Ipanema, livro de Carlos Scherr, cardiologista com mais de 20 anos de experiência na medicina, é uma dieta feita para cuidar da saúde em geral e do coração em particular. O corpo bonito, marca da juventude dourada de Ipanema, é apenas consequência. Com base em estudos científicos, Scherr ensina como transformar o estilo de vida de uma parcela dos cariocas em arma poderosa contra doenças coronarianas.O livro, que deve ser lançado em um mês, mistura alimentação, exercício ao ar livre e atitudes contra o stress. “Esse culto ao corpo, quando não cai no exagero, traz muita coisa boa. O Rio tem um clima que favorece. Essa beleza natural faz da cidade uma academia ao ar livre maravilhosa”, diz Scherr, cujo consultório fica em Ipanema.As dicas não servem apenas para quem mora no Rio. O bairro que ficou famoso no mundo inteiro depois da Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, é só uma inspiração. E ajuda a quem quer se cuidar em qualquer parte do País. Estilo Ipanema ensina, por exemplo, que mais vale tomar um suco de laranja feito em casa do que um suco industrial com zero de fibras e mais calorias. Melhor ainda é tomar uma água de coco tirada na hora, hábito comum entre os cariocas que caminham na orla da zona sul.
COLESTEROL
Praticante desses ensinamentos, Scherr reúne tabelas que ajudam a montar um cardápio fazendo a escolha certa nas refeições tanto para manter a saúde cardíaca como o peso. O livro reproduz parte dos estudos com alimentação feitos para sua tese de doutorado.
Durante dois anos, ele fez uma pesquisa inédita no País. Analisou a quantidade de colesterol e gorduras nos alimentos vendidos nos supermercados brasileiros. Segundo a American Heart Association, para uma dieta de 1.800 calorias diárias, pode-se consumir 300 mg de colesterol.
Com a tabela de alimentos feita por Scherr é possível incluir na alimentação produtos aparentemente proibidos, como ovo e pernil. “É tudo uma questão de quantidade e de forma de cozimento. O namorado é um excelente peixe para o coração, mas, se for feito frito, todos os nutrientes são destruídos.”
É bom preparar a fita métrica. Scherr alerta para os estudos que medem os riscos da gordura abdominal. Os homens não podem ter mais do que 94 centímetros. As mulheres, no máximo 80. “A barriga espelha a gordura que está dentro das vísceras. Ultrapassar essas medidas é um risco.”
Scherr defende também a adoção de alimentos funcionais no cardápio do brasileiro. Além de frutas frescas, principalmente as cítricas, ricas em vitamina C, ele prega também uma dieta à base de frutas secas, peixes de água fria (salmão, namorado, sardinha), muita verdura e pouca carne vermelha. “Isso não piora a satisfação de viver das pessoas. São coisas que já estão no dia-a-dia de muita gente. É só uma questão de saber organizar.”
Scherr aconselha no mínimo 30 minutos de caminhada por dia. Todo dia. “É uma atividade física fácil, de graça, que pode ser feita por qualquer um.” É fundamental apenas que, antes de começar, as pessoas consultem um médico. E evitem fazer qualquer tipo de exercício apenas no fim de semana. “As pessoas acham que porque não estão sentindo nada não tem nada acontecendo com a saúde delas. Volta e meia passam mal durante o exercício.”
Atividade física no fim de semana é pior do que não fazer nada a semana inteira porque submete o corpo a uma carga forte de esforço. “Às vezes ainda é feita sob sol forte, acompanhada de uma bebidinha e depois um salgadinho. É uma mistura para explodir.”Há também sugestões para controlar a ansiedade, como exercícios de ioga e meditação, sem precisar recorrer ao remédio. E, é claro, o cigarro está completamente fora de questão. “Ele é o risco número 1 para o coração”, completa.